por Ali Abunimah
para The Electronic Intifada
Quando escutei a notícia de segunda-feira de que os primeiros casos de coronavírus haviam sido confirmados em Gaza fora dos centros de quarentena, me dirigi imediatamente à página do Ministério da Saúde de Gaza no Facebook.
É o lugar que vou para obter informação ou transmissões ao vivo de coletivas de imprensa de funcionários da saúde que servem aos 2,1 milhões de palestinos em Gaza, a metade dois quais são crianças.
Este era o momento que todos temiam e que haviam conseguido evitar desde o início da pandemia: um brote potencialmente descontrolado em um enclave sitiado cujos sistemas de saúde e saneamento tem estado de joelhos durante anos devido aos sucessivos ataques militares israelenses e 14 anos de bloqueio ilegal. Para minha consternação, contudo, a página do Facebook tinha sumido.
O Dr. Ashraf al-Qedra, porta-voz do Ministério da Saúde, confirmou ao The Electronic Intifada que o Facebook fechou a página há cerca de dez dias. Esta é a terceira vez que o Facebook fecha a página do Ministério. Ashraf al-Qedra disse que o pretexto que o Facebook deu era de que o Ministério havia usado as palavras “mártir” ou “resistência”.
A palavra shahid em árabe, frequentemente traduzida por “mártir”, é utilizada quase universalmente pelos palestinos para descrever qualquer pessoa, seja um civil ou combatente, morto no contexto do conflito com Israel.
Escrevi para o escritório do Facebook duas vezes esta semana pedindo uma explicação. Ainda não recebi nenhuma resposta.
Campanha de censura
Durante anos o Facebook esteve levando a cabo uma campanha de conversas com as autoridades da ocupação israelense para silenciar e censurar os meios de informação palestinos. Dezenas de contas e páginas de jornalistas e publicações palestinas foram fechadas com o pretexto dado por Israel de que as críticas à Israel e a seus crimes contra os palestinos constituem “incitação”. Ademais, etiquetaram o jornalismo palestino como um “discurso de ódio”. O Facebook incluso nomeou um censor do governo israelense para o sua “junta de supervisão”. Enquanto isso, tem permitido a influência do lobby de Israel e que as campanhas de desinformação se deem livremente em sua plataforma.
Cruel e incompreensível
Dado o silêncio do Facebook, é justo concluir que a exclusão da página do Ministério da Saúde é parte de uma campanha de censura. Mas, em que “incitação” poderia haver participado o Ministério da Saúde?
Todas as pessoas e jornalistas que visitaram sua página sabem que o Ministério da Saúde utiliza o Facebook para proporcionar informação, seja sobre pessoas mortas ou feridas em ataques israelenses, ou sobre esforços para conter a propagação do Covid-19.
“A página do Facebook é muito importante para o nosso trabalho, para manter a conexão com as pessoas e postar informações e orientações”, disse al-Qedra. “O Facebook se converteu em uma fonte de informação básica em todo o mundo, e em Gaza é o ponto de venda mais utilizado.”
É cruel e incompreensível que o Facebook prive os palestinos de informações em qualquer momento, mas durante uma pandemia é positivamente sádico.
Também é hipócrita: quando o Facebook afirma que está trabalhando para “deter a desinformação e as notícias falsas”, como pode ajudar fechando fontes vitais de informação sobre saúde para as pessoas vulneráveis? Ante esta escandalosa censura, o Ministério da Saúde de Gaza está trabalhando para lançar uma nova página, segundo al-Qedra.
Mas cada vez que o Facebook exclui a página de uma organização, esta perde todos os seus seguidores e deve começar do zero para acumular de novo sua audiência. Mas, o Ministério da Saúde de Gaza ainda tem outra página no Facebook criada em março especificamente focada no Covid-19, e nela se anunciou na quarta-feira passada a primeira morte de um palestino com o vírus fora da quarentena em Gaza.
O Ministério declarou que Rabah Labad, de 61 anos, estava gravemente enfermo e utilizava um respirador quando faleceu. Os oficiais da saúde também anunciaram mais nove casos em diferentes partes de Gaza nesta quarta.
As coisas são bastante difíceis para os palestinos em Gaza, e o Facebook deve deixar de contribuir com a sua miséria censurando informações sanitárias vitais.
ATUALIZAÇÃO
Depois da The Electronic Intifada informar sobre a eliminação da página do Ministério da Saúde de Gaza, o Facebook a restaurou.
Iain Levine, oficial de direitos humanos da companhia Facebook, confirmou o fato na quarta-feira à tarde (26/08). “Obrigado por chamar minha atenção sobre esse tema”, tuitou Levine em resposta ao autor deste artigo. “Pudemos restaurar a página imediatamente, que foi tirada do ar por equívoco. Nos desculpamos de antemão por qualquer inconveniente causado”, disse Levine.
> traduzido por Adrian para o elsur.noblogs.org – entre em contato caso tenha encontrado algum erro na tradução.